terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Jarrett Jack Effect - The Mark Jackson Movement


Quando pensamos na presente época da NBA, vem-nos logo à cabeça a ruptura vertiginosa (e, para os fãs, dolorosa) entre as expectativas criadas e a actual campanha dos Lakers. Esse é sem dúvida o facto mais distinto desta época, e a confirmar-se a ausência da mais famosa equipa de Los Angeles dos playoff, será certamente um caso a ser estudado (como depois de todos os grandes desastres, a incredulidade tem obnubilado toda a explicação plausível, e ninguém concorda plenamente sobre as verdadeiras causas da catástrofe) durante anos e a que iremos aludir quando nos quiserem fazer passar uma lista de jogadores de basquetebol individualmente muito valiosos como uma certeza, para lá de toda e qualquer dúvida, de que temos ali uma grande equipa – como, de certo modo, no futebol já o fazemos devido ao relativo desapontamento que foram os galácticos de Madrid. No entanto, o actual grande flop dos Lakers, e a enxurrada argumentativa à sua volta, tem arrastado para segundo, terceiro, quarto ou plano nenhum, a análise do grande sucesso desta época – a enorme e absolutamente anti-intuitiva campanha dos Warriors.
A equipa de Oakland, ao longo de vários anos comandada por Stephen Curry e Monta Ellis, a que depois se juntou o promissor David Lee, foi sempre apresentada como talentosa, capaz de obter pontuações absolutamente excepcionais e de fazer frente a qualquer adversário, cuja juventude implicava uma irregularidade que exigia paciência, obstinação, crença, pese embora os frutos deste sacrifício, em breve, sem dúvida se irem tornar indiscutíveis.
Porém, as épocas passavam, os falhanços das não idas aos playoff acumulavam-se, a maturidade não dava à costa, a irregularidade corroía a fé e consumia a paciência. Na época passada, a corda rompeu-se. Convencido das teses de que a equipa não evoluía devido à incapacidade do jogo interior (porque a mestria do exterior estava para lá de qualquer dúvida), numa troca que continha algum risco mas que foi elogiada de forma generalizada, o GM decidiu adquirir um poste portador de saúde duvidosa e abrir mão da sua principal estrela: assim, trocou Monta Ellis por Andrew Bogut. Mas quando esta época, logo no início, se tornou claro que a verdadeira capacidade física de Bogut – como, num caso semelhante, a de Bynum – tinha sido sobre-avaliada,  o desânimo foi tal, a descrença na melhoria dos resultados tão forte, que levou inclusive os responsáveis pela equipa a mentir aos fãs até ao último momento. Aquilo que parecia ter sido um movimento audaz, quem sabe o sempre necessário golpe de asa que abre a porta do sucesso, tinha-se tornado na causa inexorável dos próximos anos de penúria.
Até que a época começou. A equipa, a cada jogo se demonstrava mais competitiva; a tão desejada regularidade ganhadora, a cada série se prolongava; a estupefacção foi dando lugar a um cauteloso optimismo; e, hoje, ainda ninguém percebeu muito bem como a equipa já praticamente garantiu os playoff. Há quem aponte a estabilidade da saúde e, talvez devido a ela, nas exibições de Curry, juntando-se assim este ao sempre competente David Lee; não há quem deixe de fazer referência à evolução de Klay Thompson ou ao talento do rookie Harrison Barnes; e, mais timidamente, quem faça notar a boa época dos reforços vindos de New Orleans: Jarrett Jack e Carl Landry.
Quero defender que, se nenhuma destas causas é falsa, todas juntas também não parecem suficientes. Curry e Lee em 2010/2011 já jogavam juntos, ainda tinham a cooperação de Monta Ellis, e o sucesso não aconteceu; Klay Thompson pode ser acusado do pecado dos colegas a que se juntou: a extrema irregularidade; a época de Harrison Barnes parece claramente uma consequência, e não a causa, da boa orgânica da equipa; e os reforços pescados aos Hornets eram há muito conhecidos quando a desilusão e desentusiasmo causados pela lesão de Bogut eram tão grandes que podiam ser avistados do outro lado da Golden State Bridge.
Sem negar que outras causas para isso contribuíram, qual então a causa fundamental de todo este sucesso?
Para mim, um pequeno movimento táctico acrescentado por Mark Jackson esta época (ele que já era o treinador na desastrosa época passada) e que, se fosse apreendido por outras equipas da NBA, podia ser copiado com igual êxito: a deslocação, logo que o jogo aquece, de Stephen Curry para shooting guard, com o comando do jogo a ser entregue a um base competente na organização da equipa, mais preocupado com o critério e fluidez na circulação da bola do que com o cesto, capaz de dosear o ritmo e aumentar a eficácia do ataque e, através do controlo do jogo, da defesa – algo que Jarrett Jack tem feito na perfeição.
Mark Jackson, ele mesmo um ex-base com as características de Jack (outros há e houve na NBA; um dos recém retirados que vem à memória é o grande Steve Kerr; o exemplo actual mais óbvio pela longevidade é Andre Miller), compreendeu – ou talvez tenha sido obrigado a testar e logo percebeu – esta época que as dificuldades da equipa não derivavam da ausência de agressividade no jogo interior (Bogut fez 7 jogos, e julgo que em nenhum deles esteve 30 minutos em campo), nem da falta de regularidade do exterior (essa continua); o grande problema da equipa, e que agora foi resolvido, consistia em ter um shooting guard como guard, porque um shooting guard, por mais talentoso e capaz que seja, tem o instinto adestrado na direcção do cesto, e, quando os jogos se tornam complicados, o seu instinto tende a degenerar em individualismo, o individualismo em turnovers, os turnovers em instabilidade emocional, e, nos momentos chaves dos jogos, em derrotas - mesmo um jogador do calibre de Lebron, quando obrigado a executar nos últimos minutos uma função que lhe é anti-natura, não evita estes erros.
A equipa que em termos de regular season mais padece claramente do mesmo vírus são os Cavaliers – Kyrie Irving, que já é um dos melhores jogadores da Liga, nunca será, como S. Curry também nunca será, um grande guard – e, no que aos playoff diz respeito, talvez em breve tenhamos notícia que todo o talento dos Thunder, e a aparente facilidade com que R. Westbrook marca pontos, não sejam de novo suficientes para a conquista do título, com este último a enveredar pelas decisões mais disparatadas (e quase sempre individualistas) quando o jogo mais exige um melhor critério (o recente episódio com os Grizzles é um sintoma disso mesmo: a equipa não compreende as suas decisões, e o treinador só mantém a paciência porque o talento – dele e da equipa – vai chegando para uma regular season de sucesso).
Entretanto, os Golden State, com o seu jogo equilibrado, onde o talento é sustentado e potenciado pela organização de jogo de um verdadeiro base, tem já o playoff quase assegurado e o futuro, com a recente reentrada de Andrew Bogut na equipa, não podia ser mais prometedor. 

pmramires

0 comentários:

Enviar um comentário

Template developed by Confluent Forms LLC; more resources at BlogXpertise