quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O “fenómeno” Jorge Mendes



Nos dias de hoje, falar de futebol é falar em negócios de jogadores, em transferências milionárias, em parcerias entre clubes e empresários, acima de tudo, hoje em dia falar de futebol é falar em Jorge Mendes. Um empresário de sucesso, detentor da segunda maior empresa de agenciamento de jogadores, apenas atrás da empresa francesa Mondial Sport, resultante da fusão de duas empresas: a Mondial Promotion e a Mondial Sports Management & Consulting. Actualmente, gere a carreira de 69 jogadores, avaliados em 524,9 milhões de euros (segundo um estudo da “Pluri Consultoria”). Neste momento, ser agenciado por Jorge Mendes é sinónimo de sucesso e os jogadores sabem disso, os clubes sabem disso e até a banca sabe disso.

Controla actualmente os grandes clubes de Portugal e Espanha, procurando ter também uma grande influência em clubes de segunda linha, como são os casos do Rio Ave, S.C. Braga e Deportivo da Corunha. A relação próxima de Jorge Mendes com estes clubes é facilmente justificada. No caso dos vilacondenses, equipa agora orientada por Nuno Espírito Santo, que foi nada mais nada menos que o primeiro negócio por si efectuado enquanto agente, estávamos então em 1997, ano em que o jogador saiu do V. Guimarães, com destino ao Deportivo da Corunha, desde já presidido por Augusto César Lendoiro. Desde então, estabeleceu uma ligação de grande amizade com estas duas individualidades, o que explica o grande número de negócios realizados entre si, bem como o elevado número de jogadores agenciados pela Gestifute nos respectivos planteis. Numa breve análise à primeira volta dos dois campeonatos ibéricos, podemos concluir que esta parceria tem sido mais proveitosa para o clube vilacondense, situado num excelente quinto lugar europeu, longe das suas habituais lutas pela permanência, do que para o clube galego.

A troca de favores entre estas duas instituições e o empresário é por demais evidente. Desde jogadores vendidos a preços bem superiores ao seu real valor de mercado, a esquemas montados para valorizar jogadores ou facilitar a sua entrada na Europa para posteriormente serem vendidos a clubes com maior poder de compra. O caso do brasileiro Fabinho, que nem chegou a realizar jogos oficiais pelo Rio Ave e rapidamente rumou para Madrid, tendo sido o Rio Ave compensado com as chegadas de Lionn e Edimar. Filipe Augusto é outro caso puro de valorização. Custou 2,2 milhões à Gestifute, é internacional sub-20 pelo Brasil, e é notória a sua qualidade futebolística para outros voos. Vai actuando pelos vilacondenses, facilitando assim a sua adaptação ao futebol europeu. Quanto ao Deportivo da Corunha, recém-promovido à Liga BBVA, de bom grado vê esta parceria com a Gestifute, pois de outra maneira seria difícil contar com um plantel competitivo para esta temporada, dadas as limitações financeiras. O seu plantel é constituído por um vasto número de jogadores representados pelo empresário português, que procura recuperar e relançar as carreiras dos seus activos, situações que lhe permitirão realizar negócios rentáveis a curto prazo. Casos de Bruno Gama, Diogo Salomão, André Santos, Pizzi e do recém chegado Sílvio, e também por onde passaram, embora fugazmente Roderick e Tiago Pinto. Numa breve referência a Pizzi, detentor de um historial de transferências caricato desde a sua saída por empréstimo do S.C. Braga para o Atlético de Madrid, onde no final do mesmo é accionada a opção de compra pelos colchoneros, para novo empréstimo, desta vez ao Deportivo. Um jogo bem delineado por Jorge Mendes onde as regras são ele quem as faz. Este esquema por si montado é por demais evidente, quando olhamos para transferências como a de Bebe, um desconhecido que salta das ligas secundárias portuguesas para o Manchester United (após uma passagem fugaz por Guimarães, durante a pré-epoca), por uma módica quantia de 9 milhões de euros. Júlio Alves, que se transfere do Rio Ave para o Atlético de Madrid e de seguida segue para o Besiktas, onde foi nula a sua utilização, acabando agora nos “bês” do Sporting; Rúben Micael, envolvido no negócio Falcão, nunca chega a jogar pelo Atlético de Madrid, seguindo logo por empréstimo para o Saragoça. São apenas algumas, dessas muitas transacções realizadas por Jorge Mendes em volta dos “seus” clubes que geram alguma incompreensão.

Outro facto que levanta algum interesse é a Selecção Nacional. Tendo como referência a ultima convocatória de Paulo Bento, a maioria dos jogadores é agenciada pela Gestifute, o que demonstra bem o seu poderio a nível nacional. Verificamos cada vez mais a influência dos empresários nos clubes, nas selecções, estamos cada vez mais perante um jogo de interesses, onde os jogadores são apenas "mercadoria" num mundo cada vez mais de negócios do que de entretenimento de massas, onde o amor ao clube faz parte do passado e os jogadores são vistos cada vez mais como mercenários de uma “guerra” de empresários.

JPereira

2 comentários:

  1. Hoje, o desporto desenvolve-se segundo uma lógica económica e uma dinâmica organizacional de gestão de negócios. São as empresas privadas que, juntamente com os seus principais interesses, assumem cada vez mais a condução da prática desportiva. Paralelamente, assistimos a um corte substancial dos apoios financeiros públicos ao desporto.
    Na minha ótica e segundo estes princípios, casos como o Jorge Mendes e a Gestifute ou por exemplo a Qatar Sports Investiments que comprou o PSG, serão cada vez mais comuns no desporto europeu, especialmente no futebol.
    As questões que coloco são as seguintes:
    Será este, um processo normal de desenvolvimento do desporto europeu, um desporto que está a passar de uma lógica corporativa pra um lógica privada? Quais os seus riscos? Os seus benefícios?

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    1. Na minha óptica este é o rumo normal das coisas pois o desporto é o reflexo da nossa sociedade cada vez mais consumista e materialista, cada vez observamos que jogar limpo deixou de existir à muito tempo, o dinheiro compra tudo, os mais poderosos financeiramente, "roubam" literalmente o trabalho feito pelos mais "fracos" para assim poderem atingir o sucesso mais facilmente. Cada vez mais observamos os clubes cm PSG e Man City, principalmente, serem brinquedos nas mãos dos milionários sheikes. Assim cada vez mais observamos que ter dinheiro é sinónimo de poder comprar tudo já feito, sem ter que perder tempo com as difíceis etapas de criação de jogadores, estruturas de scouting, departamentos de formação, ou seja, é mais fácil comprar a ideia dos outros que tantontrabalho tiveram a desenvolve-la e a torna-la uma formula de sucesso. Pegando no exemplo recente de lance amstrong, podemos afirmar cada vez mais nao sabermos até que ponto os vencedores, as lendas, todas aquelas pessoas e clubes que admiramos no desporto, realmente são "vencedores" ou vencidos nesta temática da batota, que cada vez mais se evidencia como o shortcut preferidos dos atletas e equipas de alto rendimento. Fica aqui a reflexão....

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